quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Olá! Quem és tu?

O meu tule que outrora foi rosa,
de um rodado assimétrico,
hoje desfalece nesta pequena prosa,
desmaia-se-lhe a cor de sentir a dor,
Apaga-se o rodado apropriado a um tule cor de rosa.

Apresso-me para me enjeitar para ficar assim, bonita,
Pode ser que algum senhor me escolha,
mas tenho o rodado desmaiado e o rosa desfalecido.
Apresso-me, vou lavar a cara e enfiar os dedos nos nós do cabelo.
Pode ser que fique assim, bonita.

Pode ser que um senhor me escolha...

Levada pela mão sigo o corredor
atrás de umas calças pretas e passadas a ferro,
estico-me e aponto a luz do quarto,
Noto-lhe o contorno do sexo.


Ajeito o Tule, para que não desmaie antes de mim!

Ajeito o cabelo para que não caia antes de mim!

Ajeito a alma, para que morra antes de mim!


Porque choras tu, perguntam as calças pretas,
Choro porque me dói,
Choro porque eu não gosto,
Choro porque não tenho outra escolha,
Choro porque sofro,
Choro porque....nasci assim,
Sem escolha,
Condenada,
Aprisionada,
Mal tratada,
Desgraçada
Desprovida de graça,
Abandonada,
Abusada,
E agora choro porque sou ignorada, injuriada, violada, presa...
Castigada por ser quem sou!

Até que se ouviu a explosão... Ahhhhh!!


E nada do que foi dito, foi ouvido,
ficaram as palavras mudas gravadas numa cassete,
ficou o meu tule desmaiado e o cor de rosa abandonado.
Fiquei eu, muda, neste silencio estridente que ecoa na alma dos mortos sem qualquer reflexo naqueles corpos inócuos de humanidades.

Olá, eu sou mais uma criança violada todos os dias. E tu quem és?

1 comentário:

Misantrofiado disse...

Eu... sou a imaginação do nada - a fantasia do silêncio.