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Hoje sei que estou só nesta viagem solitária pela morte de outros.

Hoje relembro palavras que me rasgam a carne,
Dilaceram a alma feita de ferro.
Hoje sei que palavras enviadas pelo olhar me matam.
Calor que me aquece o corpo pelas veias bombeando o sangue quente relembra-me a hora combinada, faz-me apressar os pequenos passos, vestir qualquer coisa de curto, por um perfume intenso, calçar os sapatos do requinte, pentear o cabelo de qualquer forma só para não parecer desajeitado demais. Preparo tudo, anseio a chegada...
Tocou a campainha e ele entrou. Com aqueles olhos azuis e de cara marcada pelas sardas que concordam com o cabelo e pele clara, que hoje me faz lembrar raças arianas, respiras o meu nome num tom paranóico e alucinado.
[Apenas pensei que fosse só "querer".]
Digo: "Bom Dia, como estás?" e a reposta foi directa e precisa: "Bom Dia!"; logo a seguir a um beijo que me ocupou a mente por mais de meia hora, os braços que me envolveram os traços, as mãos que me tactearam as curvas do meu jovem ser... Ainda te vi os olhos azuis, as sardas, o loiro e o branco da pele como algo suave, discreto e bonito...
O olhar azul mudou de repente, as sardas espalharam-se pela cara cobrindo-a de negro, o azul desvaneceu, o loiro virou vermelho e o branco passou a preto. Mutação absoluta metamorfoseada em pleno calor.
Há quem não goste da palavra NÃO!
Hoje relembro como um Gigantone, de olho azul profundo, pintas castanhas, traço fino, farpas em lugar de cabelo. Abismo em lugar do ser.
Hoje relembro como pequena sobrevivência num qualquer quarto escuro, selado, com cheiro a mofo e a podre, com varejeiras que sugam o sangue e picam os olhos, com as cortinas negras e espessas que se tocam no meio daquela janela sem que nada passe, nada transpire, nada se veja, nem luz inunde; com uma porta forrada a preto, almofadada com o requinte hospitalar de pequenos botões por entre o almofadado e fechada.
Hoje relembro a morte de outros.
Hoje gostava que sentisses este misto de sentimentos que nem ouso sequer relatar ou tentar transparecer. Seria sanguíneo de mais, violento de mais, brutal de mais.

(para ti ó grandessíssimo Filho da Puta, dirijo a seguinte frase... Um dia, quando te sentires assim, vais perceber a Morte! E Eu? Eu vou estar "Dancing on Your Grave"!)
1 comentário:
Há quem não goste da palavra “NÃO”!
Pois há.
Como há quem ainda se convence de que quase tudo é adquirido.
Tenho reparado, inconsequentemente, na convicção alheia do usufruto da posse absoluta.
Tenho sorrido… ao mesmo tempo em que desencadeio tantas possibilidades de contrariar essa então referida convicção.
Se me desviei do assunto, não lamento – esclareço.
Mas desculpa-me caso te tenha invadido (demais) a privacidade.
Best respect
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