De cotovelos poisados na ombreira da janela, envolvo a chávena fumegante, com o cigarro pendurado nos dedos e deixo-me acordar.
Visualizo o dia.... clepsidras em contra tempo.
Enquanto gozo os meus 7 minutos de paz matinal, o cigarro queima e o café arrefece... Acabou-se o tempo.
O puto acorda com um sorriso que me faz acalmar o semblante e testar as primeiras palavras da manhã: "Bom Dia Amor!". Ele retribui com um sorriso que só eu sei e estende-me os braços. Não há nada que mais me acalme... Sentir aqueles bracinhos em volta do meu pescoço e um beijinho na minha face!
Começou a corrida. Fazer a papa, vestir, brincadeira e palhaçada pelo meio. Tratar de mim, vestir-me. Por o pinguim no popó da escola. Apanhar o autocarro e... começou mais um momento de mim para mim.
Aprecio os semblantes de quem entra, retrato-lhes o estado e as memórias. Quase quase que os sinto. Olho-os nos olhos por detrás do meus óculos escuros e espreito-lhes a alma e quase que consigo dissertar sobre. Viajo em vidas que desconheço. Relato-lhes a experiência e quando dou pelo cessar dos solavancos, reparo que já chegou o fim do trajecto. Passo á Ponte. Mais uma viagem. Esta por norma introspectiva. Normalmente escrevo nesta viagem, guardo na minha alma a recordação das letras escritas nos vidros do comboio que se apagam com a minha saída.
Vou para o escritório, abro tudo o que é PC's e abro a minha página, esta minha caixa onde guardo os meus eus e os meus restos, e esvazio os meus dedos em toques infindáveis em teclas. Publico alguns, outros guardo só para mim e mostro a mim mesma o quão tímida sou. Sim porque a timidez vai além do visível. Sim, porque eu realmente digo somente 1/4 do que me vai na alma..
Toca o telefone, organizo os mails, vou á porta, páro para conversar... confesso que tem dias que me perco em ramificações intermináveis, delírios intangíveis e em pensamentos utópicos... toca o telefone, mando uns mails, fecho a porta.
Organizo-me, desorganizam-me, reponho-me e escrevo. Deixo aqui pequenas amostras da minha pele, as cicatrizes que me rotulam a alma e me fazem diferente. È como nos frigoríficos pré-cova. Identifico-me pelo que me marca a tez, até porque, se todos nos expuséssemos nus, nus até ao Tutano... seriamos todos iguais. Todos queremos o mesmo... os nossos limites e curvas na estrada é que nos mudam e nos tornam reconhecíveis. Fora isso... todos somos iguais.
E eu, sou igual a tantas outras e outros, posso ter é mais ou menos cicatrizes.
1 comentário:
Cicatrizes que fazem toda a diferença.
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