.
"Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
.
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
.
.
Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração."
(de: Luís de Camões ao som de Zeca Afonso em "Traz outro amigo também")
Chove em mim os teus pesados passos,
de passagens que não se recriam
infiltram-se entre os espaços...
Mas eu (não) sei preencher o teu nada.
O vento frio desta cadência de doce suspirar
de uma qualquer ausência,
de um não querer olvidar,
sombras que nos perturbam a existencia.
Indegesta pendência - Será?
Precorre-me os verdes campos
que se fecundam ao teu lugar,
espreita o vermelho do meu olhar,
ara-me com a força do teu chover.
E eu? Eu não tenho medo do teu chover.
Seria num utópico diurnal
que o desabrochar
precedia o brilho do teu sorrir.
Enraizo-me aqui...
4 comentários:
Quem não tem medo da chuva, da tempestade não tem medo do sol e da brisa...quem não tem medo da noite não tem medo do dia!
Quem não tem medo de Si mesma, não tem medo de ninguem...
beijo
Cara Pearl,
Às vezes tenho medo, é... medo de me despir, não porque me envergonhe, só porque sou frágil. Por isso, e correndo o risco de não me fazer entender, não tenho medo do chover. Envolvo a minha papoila numa bola de vidro, até hoje, inquebrável a olho nu. Mas... como tudo o que escrevo aqui, e muitas vezes ignorado, os meus textos podem ser reais ou imaginados. Onde andará o desambiguador?
Beijo
As tuas metáforas são exímias. Perigosamente.
“E eu? Eu não tenho medo do teu chover.
Seria num utópico diurnal
que o desabrochar
precedia o brilho do teu sorrir”
A ousadia (ali) evidente, talvez certamente, não te desnuda, conscientemente.
Eu já reparei nesse dom que tens, de extrair contentamento da amargura… de conseguir olhar a terrível máscara acreditando numa beleza interior.
Temes o que desconheces, naturalmente, e eu sei porque mesmo assim te aventuras.
Pouca importa a capacidade ou habilidade que tenho para encarar a grande metáfora – VIDA, sabendo de antemão que afinal mais não é que a obra prima cénica da morte, porém, é com enorme excitação que reconheço a desafiante riqueza desse teu engenho intelectual, intrigantemente cativante.
Caro Corvo,
Será que pode existir a fragilidade inabalável mediante a horribilidade aparente?
Sou a potente delicadeza dos finos contornos do meu corpo. Indestrutível meu.
Sou o crer indescritível no cerne do ser que te suga para o vortex da deidade em mim. Sim lindos são os meus olhos, lindo é o meu crer. Mitos, ilusões? Não sei, cá estarei á espera da torrente que me inunda e seca no mar de mim.
Sou inesgotável numa consciência cortante, meio masoquista, meio altruísta, nos lindos olhos de quem não vê mas que ardem com as areias que sobram de ti.
Não, eu não me deixo morrer, nem sequer fraquejo na minha corajosa aventura.
E... saberás mesmo o porquê?
The Bravest Regrads,
Enviar um comentário