segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Converseta de Café - entre a bica e o cigarro

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Sendo o que é, a realidade não poderia ser outra coisa se não o que é, de facto.

Aquilo que entra pelos olhos é o que é, e merece o valor que lhe é conferido.

Tal como um cinzeiro ou uma pessoa, que é a mesma coisa…

Cada um dá-lhe o valor que lhe parece ser o justo para si, mas isso não significa que não flutue que nem o PSI20…

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Querendo com isto dizer absolutamente nada sobre porra de coisa nenhuma.

Como se fosse um fumo indefinido a sair das teclas que tento calar.

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As aparências são aparências e muito mais que aparências, ou muito menos.

Depende substancialmente do ponto do observador, se da esquerda para a direita, se de baixo para cima, ou obliquo às frases.

O mesmo que dizer tudo é coisa nenhuma, nenhuma coisa também é tudo.



Se bem que não sendo a mesma coisa é similar e não igual. A minuciosidade do tom grave com que se lê, que é o mesmo que dizer com que se escreve, é provavelmente lido e / ou escrito com o mesmo tom, mas no sentido oposto – agudo.



Aquele agudo que a professora de História tinha quando tentava silenciar os obtusos aprendizes de castelos no ar. Esta, a professora, é igual aqui e na China, sendo que poderá ensinar Física Quântica, ou Astrologia, ou uma chinesice qualquer…



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Enfim… devaneios que não sendo nada, são tudo.



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Ah! Estava eu a dizer que a aparência é precisamente isso mesmo – aparência.

Mas até que ponto a capa não é um véu transparente? Ou precisamente o oposto? Ou será meio de cada, ou um ¼ num lado e ¾ no outro?

E… quem sabe alguma coisa sobre a verdade?

Se afasto, aproximo; se aproximo desvanece-se pó.



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Subestima-se o valor da verdade como quem deixa 1 cêntimo na Caixa de Esmolas.

1 Cêntimo, tal como o cinzeiro, ou como a pessoa ou como o mundo, tem o valor que tem e vale o que vale.

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De que vale ver Arte se nada se pretende da Arte?



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Em suma?

Estive aqui a escrever sobre coisa nenhuma e assumi que vos gastei o tempo a ler coisa nenhuma sobre tudo.



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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

GRITA-ME

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AJUDA-ME ajudando a ajuda de ajudar quem diz adeus à esperança velha com um casaco de pedinte sujo.

Não pises a esperança feita de poças de água que mergulhas entre passos pelas ruas dos mendigos que mendigam um adeus entre dentes numa boca de fome e línguas de sede.

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Diz-me adeus. Prefiro que me digas adeus a lamberes as calçadas à procura do mel da abelha zangada.

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Se não me disseres adeus, pelo menos grita-me um histerismo acusmático que me parte e estilhaça e corrói o meu, delicado e frágil e estúpido coração.

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terça-feira, 24 de novembro de 2009

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Curioso, o modo como esgravatam o Sinai para alcançar não mais do que a iluminação que se encontra à frente dos olhos…

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Quão ansiosos estão de prever a morte que fortuitamente se compelem ao inferno…

E eu assisto, sentada e de perna cruzada com um cigarro na mão, como quem assiste a uma peça de teatro, tão maior que a palma da minha mão…

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Que maior inferno existe que não o de ser cego, surdo e mudo?

É o que vos apresento, o eterno ritual obtuso.

De mim nada terão senão a minha douta irrelevância;

De vós terei a abençoada ignorância.




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domingo, 22 de novembro de 2009

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Não sei porque escrevo,

Escrevo porque escrevo e porque as minhas mãos escrevem.

(Eu escrevo?)

Leio.

Leio porque leio e porque os meus olhos lêem.

(Eu leio?)

Não sei se é automatismo

Se é um romantismo.

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Não sei porque os meus gestos se confundem no acto de agir,

se no acto de agir não lhe acho significância...

(Não ajo, penso a redundância.)

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Talvez seja uma treva,

um vestígio de uma sombra queimada

uma cinza largada ao vento,

um sussurro da madrugada.

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Um infinito

dentro de um infinito,

dentro de um infinito,

dentro de um infinito…

Um único infinito só.

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Escrevo e leio

porque as palavras são pó.

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Tira-me o ponto e mete-me uma vírgula.

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Nada é meu e eu não sou de mim.

Sou qualquer coisa que não eu.

Eu sou qualquer coisa que não… eu.

Eu não tenho nada e nada me tem.

Ainda assim porém,

tudo é meu e meu é de tudo.

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(É-me-nos-te-eu. )

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Este poema não é meu, meu não é deste poema

e o poema sou eu e eu sou o poema.

Se eu não sou de nada, e nada não é de meu,

Eu não sou nada.

Serei…tudo?

Tudo será eu?

Eu sou tudo e nada.

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“O Universo não é uma idéia minha.
A minha idéia do Universo é que é uma idéia minha.
A noite não anoitece pelos meus olhos,
A minha idéia da noite é que anoitece por meus olhos.
Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos
A noite anoitece concretamente
E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso”

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Eu sou Pessoa e Pessoa é eu.

Eu sou uma pessoa e uma pessoa sou eu.

A tal pessoa que não se diz Pessoa,

Mas que lê como uma pessoa de Pessoa.

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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

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Tenho saudades de dançar sobre o teu peito...

como se fosses um palco de madeira escura.
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O som da madeira que estala com o peso do corpo,

recorda-me as divinas peças que compunhamos

em languidas manhãs soalheiras.

E o cheiro... ai o cheiro...

o cheiro da madeira húmida

debaixo das pontas que riscavam o chão...

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Escrevia-te poemas na derme com o deslizar dos lábios.
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Percorrias as curvas das minhas pernas,

os teus dedos...

como se fossem penas,

desenhavam a perfeição do ritmo

alongavam-me a alma até ao infinito.
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A iluminação provida pelo Sol

dava-te um ar especialmente...

encantador,

que eu nunca consegui resistir ao beijo...
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O cenário era mostrado por um cetim escarlate

que vagueava ao vento dos nossos gestos,

dos Pivot's dos nossos corpos

até cair.
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No fim, transpirados e exaustos,

fechava o pano cobrindo-nos com os nossos corpos

e aplaudiamo-nos com um beijo

com uma alma renovada,

com um abraço selado no tempo.
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Tenho saudades de dançar sobre o teu peito

e escrever poemas na tua derme.
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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

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Ás vezes ponho-me a pensar…


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O que seria de vós se ao desejo conceder a satisfação da concretização….


No mesmo instante retraio a deflexão e levanto o sobrolho, no sorriso arrogante.


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Sabeis que mais?


Continuai a construir casas de palha que um dia destes o lobo mau subirá a tenebrosa escadaria alada dos infernos e soprará o zéfiro do apocalipse nos vossos surdos ouvidos.


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Entretanto vou-me entretendo a esfolar os vossos coelhos da Páscoa, meninos semi-nus deitados ao frio, e não esquecer… eternizar os vossos rituais para que estejam condenados à eternidade!


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O escárnio e o mal dizer (boa literatura, por sinal) …pois entenderão como melhor vos aprouver, porque a mim, francamente, tanto me faz!


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Ide vos foder mais às vossas omnipresentes e ignescentes deidades empaladas desde a nascença em vossas consciências!


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Não atentais contra a minha paciência… cuidai, que o pavio é curto.


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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Spica

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Porque me dás tanto que pensar, tanto que fazer, tanto que...sonhar, se tudo não passa de uma ilusão?


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Ao menos acorda-me de vez...


já não suporto mais imaginar...


dói-me os pés de andar sobre as nuvens,


dói-me as asas de tanto voar.


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Explica-me!


Para que sirvo eu, se de nada te sirvo?


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domingo, 8 de novembro de 2009

O esquecimento e a memória

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Se ao menos a voz entoasse e os olhos riscassem o céu.
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Sobrou o esqueleto deformado das palavras.
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