sábado, 6 de fevereiro de 2010

Hoje fico aqui.

Há muito tempo que não escrevo.

Limito-me a transcrever umas coisas dum passado longínquo que já não me sabe a doce fel, ou mel…

Tenho saudades de quando publicava com a alma escancarada qual soalheira janela ao Sol de uma Primavera eterna.

Tenho saudades de escrever num caderno comprimido por entre folhas de cálculos complicados, entre estações e apeadeiros.

Faz-me falta andar de comboio. Tenho saudades de andar de comboio. De sentir o cheiro a queimado dos travões intercalado com o profundo e intenso cheiro a campo, a terra, a flores e gentes gastas e outras jovens sonhadoras e outras… simplesmente gentes, com quem me cruzaria num verdejante prado banhado de flores e sombras onde lhes adivinho as azedas que levam aos molhos na mão.

Tenho uma saudade imensa qual oceano, das papoilas vermelhas, dos grilos pescados e cruelmente enjaulados. Saudades… que inocência cristalina…dos passeios de carro pelo campo, com a cabeça de fora, tipo cão! Das conversas sobre nadas e moralismos tão puros e tão verdadeiros…dos miradouros onde lanchava, das flores que provava, dos pássaros que por ali sim, voavam em pleno abismo rochoso…as saudades de nada temer, de nada recear a não ser os sapatos e a saia muito suja…as horas, essas não eram de minha responsabilidade, nem tão pouco sabia a casualidade do jantar, só lhe adivinhava o cheiro quando o sol se punha e a barriga refilava rabugenta…

Oh que saudades de mim, que eu tenho de mim, de ti, de nós, de não nós após…

Sei que não falta muito para ires e já agora tenho uma saudade doente de ti. Saudade de te ver velhinho e cansado, enrugado e gasto, como as mantas que deixas adormecer sobre as pernas, do calor das tuas mãos, que ainda hoje me parecem enormes, e muito ásperas; dos contos mirabolantes de uma vida trabalhada e acima de tudo muito sorrida, porque essa sempre foi a tua dádiva, muito mais sorrida que sofrida.

Quando te fores porém, eu sei que vais no teu tempo e com a tua serenidade e tranquilidade. Vais porque tens de ir, e eu ficarei por aqui, entre lágrimas de saudades e sorrisos de vontades.

Agora, simplesmente fico aqui, a ver-te partir, devagarinho.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010