segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Barcos


.


.



Hoje sinto-te a rumar além da linha do Horizonte do desespero, e antevejo a tua dor. È mais difícil rumar no mar do silêncio do que no mar das lágrimas. Vejo-te partir na bruma das palavras e despretensiosamente te aviso que o abismo para que rumas é o maior inferno na terra. O silêncio por opção, porque não há palavras, nem expressões que o definam. È a negação da vida exterior perante a estéril água que nos inunda. Relembro-te que o abismo fede na sua profunda podridão das carcaças lá deixadas, que o húmido que sentes e se escorre pelas pantanosas paredes é as tuas ressequidas lágrimas que congelaram formando estalactites cristalinas onde se reflecte a não luz. È o vazio, o vácuo, o nada. È o tecto que se encolhe e mingua o oxigénio entre o desfazer das moléculas do espaço entre ti e o chão. Chão esse, que ainda não alcanças porque a queda no abismo é interminável e não haverá lágrimas imensas que te façam submergir o corpo á superfície, remetendo-te assim ao profundo, imenso e negro silêncio da clausura interna. Não desistas… o inferno é um adjectivo amoroso face á realidade do silêncio.



Queria-te ver a remar contra essa maré avassaladora que te chupa para o vortex do teu deprimente ser. È um estado de alma combatido a ferro e fogo diariamente com sangue, suor e lágrimas.





Não vás…



Se decidires ir mesmo assim, no intuito de sufocar a dor, relembra que poderás sempre encontrar um remo a mais… quem sabe, nessa tua abrupta partida, não encontrarás ramos que arrombem o casco e te façam parar na tua brutalmente descida vertical.


Se decidires ir mesmo assim… deixo-te aqui a minha pequena mão no intuito de te transpirar o calor do esforço que é remar.



Não vás…


È tudo tão mais insuportável...








[Nota: Este posto foi construído em reacção a um outro post de um outro mudo, que lhe agradeço a bondade da partilha do ser.]


14 comentários:

Pearl disse...

Lindo como esticas a tua mão para aquecer mas eu sei que tambem para puxar!


beijo para ti

Anónimo disse...

Voltarei para reler... porque fará sentido (somente quando reler o que me falta!).


Um beijo.

KNOPPIX disse...

Ainda bem que fui curioso e vim espreitar este teu Blog; a magia que as palavras encerram transmitem uma pleiade sentimentos, quando usadas do modo como tu as usas... Parabéns...

Adorei a frase: "É mais difícil rumar no mar do silêncio do que no mar das lágrimas"

Realmente essa frase, na sua essência mais pura, revela a crueza que os silêncios encerram, porque dão azo a múltiplas interpretações... Os silêncios dizem mais que muitas palavras... Espaços que preenchemos com os significados que os nossos estados de alma vão captando, os silêncios acabam por ser insuportáveis porque o vazio suplanta muitas vezes o tudo, dilacera sentimentos, quereres, desejos, ambições.

Beijinhos

Freyja disse...

Cara Pearl,


Terei sempre inúmeras mãos para quem as quiser alcançar.


E desculpa a demora mas a vidinha tem sido além de madrasta, e o relógio joga contra mim...



Beijo grande,

Freyja disse...

Cara Attitude,


Volta sempre, estarei sempre aqui!



Beijo,

Freyja disse...

Caro Knoppix,


Bem vindo ao meu canto das letras. È um prazer receber-te.

Beijo grande para vocês os dois,

Gothicum disse...

Antes de mais parabéns pelo blog. Adorei este texto carregado de sentimento.É profundo, bem escrito e principalmente delicioso de se ler. Obrigado por escreveres textos como este, embora, muitas vezes, estejamos muito tristes quando escrevemos assim.

Freyja disse...

Caro Gothico,


Obrigada pela visita ao meu espaço, serás sempre bem vindo.

Este post foi uma reflexão de uma tristeza muito específica de alguem que eu leio com frequencia e que tenho em grande consideração.
Simplesmente me limitei a dizer: "I can hear you out here...".
Tristeza sim é a dele. Aliás chamar-lhe de tristeza é nome menor para tamanho desconsolo da alma. E eu não sou capaz de não sentir o que é escrito com as veias do coração.

Penso que todos somos assim. Todos os que escrevem por e com paixão vibram-me e terminam na ponta dos meus dedos.


Melhores Cumprimentos,

nOgS disse...

Genial, Freyja!

Beijooo

Silviis Furinae disse...

Lindo, maravilhoso, autêntico...

Adoro a frase: "Não desistas… o inferno é um adjectivo amoroso face á realidade do silêncio."

Fizeste-me transportar para tempos em que tive que lidar com silêncios que não compreendia e é mesmo isso que sentimos: o inferno passa a ser um adjectivo amoroso e Dante uma espécie de palhaço.

Pois é, agora vais todos os dias dizer adeus às Tágides no teu regresso a casa :-) liga-me ok?
A ver se bebemos um café no fim-de-semana. Adoro ler-te*

Beijo*

Peter Mary disse...

Muito bonito, muito mesmo...
Gosto de barcos, gosto de partir... adoro voltar

Bjs

Freyja disse...

Cara Nogs,

Obrigada!

;)


Melhores Cumprimentos,

Freyja disse...

Cara Amiga Silviis,


Este fim de semana poderemos marcar um encontro com todo o gosto. Assim que me organizar ligar-te-ei para pormos as nossas vidas em dia! LOL


Beijo grande no coração,

Freyja disse...

Caro Peter Mary,


Eu também adoro barcos, o mar, a água...


Volta sempre que quiseres, a porta está sempre aberta.


Melhores Cumprimentos,