segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Difusas sombras doentes

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Com as duas mãos coladas no punhal, espeto o bico e deixo a lamina rasgar um véu. Escorre o sangue de mais uma chaga...






A única imagem que se escorre pelo suado vidro do meu pensamento é a do El Rei D. Sebastião cantado pelo Zeca Afonso - Vinil ouvido vezes sem fim na minha infância. È uma figura imponente que se desvanece por entre o nevoeiro denso do desconhecido e que, para destoar da Lyric, faz replay inconsequente, deixando um rasto de confusão e imagem dúbia de uma presença ausente.

No meio do caos mental gerado resumo a significância do ser a de um rato de esgoto, sujo e fedorento, que se alimenta dos restos alheios e infesta a doença da dormência inconstante de uma sanidade pouco sã.

Não suponho sequer o malefício da inconstância da neblina mas questiono qual dos males será o maior. A ausência ou a doença? È uma conclusão lógica na minha mente que ainda não sei praticar; ás tantas pondero os riscos tendo em conta as consequências e grito até que a voz me doa num marco de pertença da razão, mas que o lado emocional cala num sufoco de uma mão. Não acho o peso certo numa balança torta.

Conheço os dois lados da medalha e sei que a dormência será latente até ao fim, mas também sei que a potente genética faz das suas e que, por experiencia própria, fará da ausência uma futilidade que se revelará emergente quando o auge do vínculo surgir.

Não sei se mate a esperança ou se deixe envenenar pela difusa neblina de um El Rei D. Sebastião, que em nada é Rei - O rato D. Sebastião.

















Lembrando-me das tatuagens que tenho na pele opto pela doença vacinando o My Precious contra os malefícios da dormência. Até quando? Não sei... Mas sei que me corrói a alma todas as perguntas a que não sei responder sem lhe estraçalhar uma imagem tão presente, mas que eu sei tão podre.

Opto pelo repetido vezes sem fim "Foi Trabalhar", que se arrasta nos meus lábios num tom cansado e cinzento.


Um dia destes, digo-lhe que perdeu a única reminiscência salva de uma morte - My Precious. E aí? Aí, será tão tarde demais... acho que a única frase que lamberei por entre os caninos diferindo de um golpe fatal, com sabor a sangue, será: "Vai morrer longe, mas tão longe que nós não possamos sequer sentir-te o cheiro!"

3 comentários:

Pearl disse...

Por vezes já não temos mais nada o que dizer o que desculpar...talvez a tua frase seja a mais correcta para o que sentes!

beijo grande e abraço

Misantrofiado disse...

Esta é uma delas?

Miguel é um nome bonito e reparo agora que fica bem (tatuado).






Com sabor a sangue... hum... assim são as tatuagens.

Freyja disse...

Caro Corvo,


Esta á uma delas sim. A outra está ao lado desta, centrada no meio das costas. Infelizmente, a foto é de tal amadorismo, que ficou quase completa, mas suponho que dá para perceber o que é...

Entretanto, há outra em vias de se concretizar que anunciarei a devido tempo. Quando houver tempo... (escapasse-me por entre os dedos)


De facto, o nome Miguel é de suma importancia para mim, não fosse o nome, a graça do My Precious. Curiosamente, é um nome que me acompanhou na mente desde que me lembro de ser gente. Daí que lhe tenha dado o nome Luís Miguel. Mas isto são outros quinhentos...

São marcos que transporto nas minhas costas o peso das minhas guerras. E em breve vou marcar mais uma vitória.

Daí que esteja de acordo, tatuagens são sempre com sabor a sangue, as minhas pelo menos...

Kiss on your fingertips,