quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Hoje antes do amanhã

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Possuída por um sufoco na alma que dilacera as palavras que me escorrem pelos dedos, misturo o sal com o sal. Nado num aperto que me contrai esquerdinamente a alma que hoje mirra numa implosão sentimental e não se seca no direito andar de mim.

Flutuo na etérea divagação do anseio do silêncio que parou o tempo. Só os ponteiros me recordam o passar que me desfaz a alma. Invisível.

Hoje misturo o sal com o sal num rio de pensamentos que me rasgam os olhos numa água que ninguém vê, por detrás do sol. Queria fazer parar o tempo para pausar este sofrimento que me escorre pelos traços. Queria matar esta falta de ar submergindo na cobardia de um escape nojento. Hoje queria esquecer, desaparecer, desvanecer...

Não sei ser a inexistência da minha essência, nem tão pouco aceder a uma hipocrisia gloriosa do não ser. Eu não sei disfarçar o que me vai cá dentro nem conter as palavras que escrevo. Despejo numa acção interminável o meu ser, na esperança de um dia me secar a fonte de um prazer que não me inunda. Tem dias... que me queria esquecer numa capa obliqua.

Ser insignificante na sensibilidade que hoje mostro ao mundo.
De nada me adianta pensar, reflectir, escrever, ler ou mesmo fazer se hoje baixei os braços e me abandono…

Amanhã? Amanhã terei certamente a força para me voltar a invadir, para sorrir, para escrever, para ler, para ser... Amanhã será outro dia, que eu intensamente anseio, que difira do hoje que me mata.

Hoje minguo, de novo.

6 comentários:

Fênix disse...

Que o Hoje possibilite um melhor Amanha...

Beijo.....




Fênix

Misantrofiado disse...

Mesmo assim e respeitando o presente estado de espírito (o teu) te digo que mais um sorriso me proporcionaste.
Pois... és acrobáticamente generosa!

Poderei eu, na humildade remota do meu âmago considerar que hoje te abandonaste em mim?

Afinal e apesar dos teus braços caídos... eu senti-te (lendo TE).








Ah, ainda bem que não sabes ser... aquilo.

Pearl disse...

Mas (sempre o mas) amanhã cresces, vais crescer como se não tivesse havido o hoje para te atrasar!

beijo para ti (grande)

Freyja disse...

Caro Corvo,

De facto abandonei-me em ti e voei nas tuas asas… mas só por ontem. Hoje, e desculpa-me a impertinência, recuso-me a ver com os teus olhos.

E em nada me espanta que me tenhas sentido, até porque vivemos os dois fechados…


E, aquilo? Aquilo de que falas é o meu inconformismo. È como beber água ou comer. È inevitável que assim seja. Eu de facto respiro-me.


Um sincero obrigada.


Kiss on your fingertips

Freyja disse...

Cara Pearl,


Para haver o "amanhã" recto, limpo e tranquilo, terá de haver um "hoje" sentido e sofrido.
Será sempre um ciclo, uma never ending story, uma reconstrução constante.


Beijo grande sentido e igualmente retribuido,

O Profeta disse...

E se as ribeiras corressem para o alto?
As pedras ganhassem vida?
Os Deuses fossem de água pura?
O céu uma dor perdida?


Bom fim de semana


Mágico beijo