quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Twilight Zone

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Sentada na mesa da esplanada tentava disfarçar. Sucedida, não pela sua mestria, mas pela “socialóide” invisibilidade do vortex egocêntrico do humanóide comum.

Cabelos claros, estragados de excessivas permanentes submetidas a abrasadores secadores na tentativa de reparar o dano das ondas. O cabelo pelas orelhas só lhe fazia sobressair os olhos, claros contrastantes com o excessivo branco. Eram estranhamente irrequietos, discretos e azuis.

Estava eu sentada na oblíqua visão daquele mundo paralelo, privilegiadamente posicionada, consegui-lhe subtrair a aparência ariana.
A única coisa que a denunciava era a mão esquerda e os olhos. Tremiam que nem o chão do metro.

Sorvi o café e degluti o ressequido queque enquanto via o filme que lhe passava á frente dos olhos, e que os seus lábios não conseguiam omitir os movimentos mudos, quase etéreos.

Toda aquela revolução cessou quando se concentrou no mais banal dos objectos - A Mala, e a procura do telemóvel naquele sem fundo poço. Achado o dito, deixou de haver ligação ao real, e foi aí que a película ardeu.

De mala no colo, sustida pela mão esquerda, na tentativa de calcinar os tremores, os seus olhos denunciavam uma conversa paralela com alguém que se dispunha de pé, à porta do café. O Sujeito barrava o acesso à porta do estabelecimento.
Os seus olhos mudos conversaram com o fascinante sujeito sobre política ou Life-Style. Era notória a envolvência do diálogo dos surdos, bastava olhar para os olhos que baloiçavam entre a porta e a entrada do café. Talvez o sujeito tivesse a presença de se desviar para que outros pudessem aceder ao consumo da bica e do pastel de nata.

De chávena na boca e mordendo o queque para calar o estômago refilão, ouvi o silêncio do olhar quando de repente entrou uma manada de vacas (sem perjúrio às meninas) porta a dentro.
Vi o sujeito esfumar-se e o espelhado do seu reflexo esvair-se para dentro dos olhos dela.
Tremelicou a mão, procuraram os olhos, descascou o Croissant e bebeu o líquido mar paralelo que a afogou. Lutou desenfreadamente para submergir das areias movediças da TwiLight Zone enquanto eu bebia o café, comia o merdoso queque e fumava um cigarro.


Restaram as cinzas da película que o vento levou e que o empregado lavou.


The End

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