domingo, 21 de dezembro de 2008

Pertinácia

.
.
.
Balbucio na comprida descida do elevador, a frase que marca os movimentos: “Sorri, mas não demais!”. Repiso o léxico à velocidade dos decibéis debitados pelo mp3, que para qualquer lado que vá, onde me consentirem estar só, coisa raríssima, experimento o mundo como dimensionalmente distante.Vicissitude que almejo repetidamente no meu habitado dia-a-dia…

Saio do prédio e, atrás dos óculos escuros, os olhos dançam uma tribalíssima procura do rosto. Caminho até ao restaurante, atenta a todos os vultos, e peço a mesa do canto, onde me possibilito observar tudo discretamente, sem ser estorvada pela cordialidade que muitas vezes é a guilhotina dos sonhos. Sem nunca deixar de o ser, e porque ainda acredito na civilização, permito, confessamente por vezes de mau humor, um sorriso incomodado e irritado.
Repiso muitas vezes que, se soubessem que me roubam do Universo com levianas conversas, certamente não iriam repetir a proeza…
Faço do sorriso um perfeito dia de inverno chuvoso. Por vezes a descoberto, o sol surge forçado pelas nuvens, retomando o seu trajecto obscuro por detrás das mesmas. Assim é o sorriso ultimamente; uma aberta num dia de chuva. Vago, fugaz e nem sequer suficiente para aquecer. Puxo a cortina almofadada cinza chuva, e cinjo-me fervendo os meus pensamentos e viagens, bem mais interessantes que os raptos constantes à consciência…
Difícil é permitir dias de Verão, inundados de luz e calor. Se bem que tudo se torne mais cruel e simultaneamente mais belo, no mundo interno dos raciocínios e delírios.
Pouca coisa a realidade tem a oferecer. Nada de novo!
Não obstante, nunca declinei uma primeira oportunidade, ou muito dificilmente o faria, a qualquer alma que fosse, porque em tempos concluí que todos, mas rigorosamente todos, têm algo de novo a acrescentar, mais que não seja o formato do pensamento, mas duvidosamente o seu conteúdo… porque, francamente? É difícil encontrar originalidade naquilo em que acredito ser o mundo.
Intenciono ver a mesma coisa, a ilusão da mesmíssima coisa, experimentada em paletes variadas de diferentes gradações. Isso sim, proporciona o inédito da questão. Todos têm algo a acrescentar!
Francamente parece-me tristemente desolador a pertinência, a minha, de assumir tamanha arrogância perante os outros. Não que me incomode o que os outros reflectem acerca da minha postura, mas sim a remota conclusão a que chego. Aborreço-me à velocidade da luz! Procuro incessantemente o inédito intelectual e, aqui sim reside a lâmina afiada que trespassa o corpo, quando tudo se repete e em nada me estimula, acabo por abandonar a carcaça sorvida, ressequida da novidade.
Muitas das vezes opto pela eremitagem, selando o acesso à interrupção do meu raciocínio porque a capacidade de concentração, honestamente, já foi mais teimosa noutras idades…

Sou incessante na minha busca, no colmatar desta sede, que a conjectura resiste em me proporcionar, tornando-me consequentemente uma eremita residente no coração da cidade.

Acaso do destino, ou nem tanto, existem ainda certas almas que me inundam a mente de informação e conhecimento, tanto na forma, como no conteúdo, e fazem dos meus dias secos e frios, autênticos vulcões existenciais masturbados no intelecto.

A essas almas turbadas, nunca saberia declinar um bom convite para almoçar!
.
.
.
.
.

5 comentários:

Pearl disse...

Sabes vivemos num mundo das cópias...mesmo a nivel de blogues, não sei se já te deste conta!?
Mas isso é outro assunto...
Essa insatisfação faz de ti um ser em evolução e movimento mesmo que parada esttejas de mp3 nos ouvidos, mesmo que alheia entre um café e outro!
Quando tens a oportunidade de sorver conteúdo de quem te inspira e te alimenta a mente, é de louvar o convite e aproveitar cada segundo!

Um beijo e um bom almoço!

Freyja disse...

Cara Pearl,


È isso mesmo, vivemos num mundo da cópia! Isso faz-me lembrar a Feira da Ladra... enfim, devaneios!
Em relação aos blogues, efectivamente tenho noção disso mesmo, mas francamente é coisa que não me preocupa, o acto em si, mas sim o parco pensamento subjacente.
Tens conhecimento de algum plágio que "nos" diga respeito?!
È que se sim, já agora gostaria de saber e lá ir meter o bedelho, por curiosidade do pensamento enrolado no acto.

Sabes, eu cá acho que essa "insatisfação" não me é abonatória completamente, porque afinal ando sempre em busca constante, e às vezes sabia bem desligar um bocadinho...

E garantidamente, não recusaria um convite para almoçar perante tal companhia. Não recusaria, não recusei e não recuso! ;)

Felizmente ou infelizmente, e entederás isto como melhor te aprouver, muito poucas são as pessoas que me estimulam a mente num frenesim constante.
Posso no entanto confessar-te que "achei" uma alma que me masturba a mente de uma forma inédita em todos os sentidos (não só a mente claro está hehehe) e seguramente, vou aproveitar todos os momentos e sorver-lhe toda a essência!

Beijo grande minha querida e seguramente, um dia destes, temos de almoçar as duas!

[Até lá, um bem hajas!]

Pearl disse...

:)))))))

Não posso deixar de sorrir, bem...desejo-te boas "absorvências" e não só, já estamos a descer o nivel de uma conversa de caracter tão elevado...e mais te digo, tenho especial atracção por quem me estimula o pensamento...e não só!!

Deixo-te um beijo grande!

PS:Quanto ás cópias, tenho visto alguma coisa sim mas nada que diga respeito ao meu circulo de amigos!é algo que se vai notando cada vez mais...

Pearl disse...

Olha...um dias destes temos de almoçar as duas...definitivamente...


beijos;)

Freyja disse...

Caríssima Pearl,


Assim que houver um furo no meu copoioso horário dir-te-ei para que possamos conciliar agendas!


Beijo!