No topo da ignorância, que afinal se releva infantilmente enevoada, deparo-me com as oficiosas comunicações sociais dos maiores devaneios político-económicos deste país em nada democrata. Isto claro pensando pequenino, como o é o hábito da maioria do ser humano.
A alienação devido à proporção da causa parece-me evidente, no entanto, alienação não obstante da desinformação surge como uma resposta difusa perante o tecer da conspiração.
Que participação realista será inevitável perante o desenrolar de tamanha trama?
Recosto-me na cadeira, bebo mais um gole do café, alimentado o corpo e o loby, e declino qualquer tipo de participação na costura dessa teia que nos enlaça a todos, mais ou menos conscientes.
Dessa forma vos deixo, distribuído gratuitamente com a compra de um Jornal Diário comum, um pequeno prelúdio escrito pela mente de José Saramago referente à “Declaração Universal dos Direito Humanos”.
A alienação devido à proporção da causa parece-me evidente, no entanto, alienação não obstante da desinformação surge como uma resposta difusa perante o tecer da conspiração.
Que participação realista será inevitável perante o desenrolar de tamanha trama?
Recosto-me na cadeira, bebo mais um gole do café, alimentado o corpo e o loby, e declino qualquer tipo de participação na costura dessa teia que nos enlaça a todos, mais ou menos conscientes.
Dessa forma vos deixo, distribuído gratuitamente com a compra de um Jornal Diário comum, um pequeno prelúdio escrito pela mente de José Saramago referente à “Declaração Universal dos Direito Humanos”.
“ Por toda a parte, num último e talvez desesperado intento para travar a ameaça, milhões de pessoas decidiram descer à rua em Março de 2003 a fim de protestar contra a iminente invasão do Iraque. Não lhes serviu de nada. Cinco anos passaram já e o estado de guerra continua, prevendo-se agora, resta saber com que fundamento, que os ocupantes norte-americanos se retirarão do país em 2011. Vencidas, de alguma maneira humilhadas, essas pessoas, milhões, repito, regressaram às suas casas sob o peso de mais uma desoladora das frustrações. De umas delas, quase em lágrimas, ouvi então esta ansiosa pergunta: «E agora, que fazemos, que podemos nós fazer?» Quase sem ter de pensar, respondi-lhe: «Queres uma causa? Tens aí os direitos humanos.» A sugestão foi recebida sem entusiasmo, quase com indiferença, o que não me surpreendeu, dado que a questão dos direitos humanos é geralmente entendida como algo remoto, fora do alcance, uma outra espécie de utopia, inacessível como quase todas. Na verdade, não me consta que a minha lacrimosa interlocutora haja seguido o conselho…
Há dez anos, em Estocolmo, precisamente no dia 10 de Dezembro de 1998, quando em todo o mundo se estavam celebrando os cinquenta anos sobre a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, chamei a atenção dos mil e duzentos convidados que participavam no banquete de encerramento dos actos solenes relacionados com a atribuição do Prémio Nobel, para a situação em que os ditos direitos se encontravam, ignorados na prática pelos governos, desprezados grosseiramente pelos poderes económicos e financeiros soberanos, perante a apatia geral de uma sociedade, que, no fundo da sua consciência, talvez já não acredite, se alguma vez teve essa ilusão, no cumprimento ao menos satisfatório dos preceitos consignados naquele documento.
A situação não melhorou ao longo destes anos, podemos até dizer que se agravou seriamente, ao ponto de já nos parecerem despropositadas, em todos os sentidos, quaisquer manifestações públicas em redor da efeméride. O mundo não daria pela falta se a Declaração fosse dada amanhã como nula e inexistente. O seu desaparecimento físico viria apenas confirmar a realidade objectiva da ineficácia de um texto cheio de boas intenções, reduzidas hoje a zero pela inoperância das entidades políticas responsáveis, a começar pelos governos e a terminar nas próprias Nações Unidas.
E, contudo, a nós, cidadãos comuns, não nos resta outra atitude que defender por todos os meios a Declaração Universal dos Direito Humanos e exigir em todos os foros o seu urgente cumprimento, sob pena, persistindo a passividade colectiva, de vir a perder-se a própria noção de direito em matéria tão importante como a plena realização da pessoa. È necessário que se torne em evidência e em instrumento de acção política este simples axioma: «É certo que sem democracia não poderia haver direitos humanos, mas também não é menos certo que sem direitos humanos não poderá haver democracia.» Sim, leram bem, sem direitos humanos não haverá democracia digna desse nome. Portanto, lutar pelos direitos humanos é, em última análise, lutar pela democracia. “
José Saramago
5 comentários:
"Falsos e hipócritas são aqueles que tudo fazem com palavras, mas na realidade nada fazem."
(Demócrito)
"O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota. Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi um sujeito vir à boca de cena e anunciar, de testa erguida: - Senhoras e senhores, eu sou um canalha."
(Nelson Rodrigues)
...texto sem comentários. Abraços.
Caro Gothicum,
Tentei-me controlar em relação ao comentário, mas como os meus dedos por vezes trabalham sozinhos, aqui te deixo uma breve reflexão ao teu comentário.
Demócrito – Discordo. Não poderemos ser totalmente hipócritas, já que ao menos qualquer coisa haveriamos de ter feito. Seremos sim incautos, tendo o ponto de vista a boa fé, no não cumprimento do proferido. Seremos sim hipócritas se não passarmos para a acção o referido já com essa pré intenção. Daí que será uma hipocrisia parcial e não total.
Nelson Rodrigues – "O ser humano é cego para os próprios defeitos." Ora bem... discordo, de novo (acho que estou em dia discórdia...) por experiência própria. Sou a primeira a admitir os meus defeitos, e quem me conhece bem sabe disso mesmo; "Nunca vi um sujeito vir à boca de cena e anunciar, de testa erguida: - Senhoras e senhores, eu sou um canalha." Ora aqui mais uma vez contesto! È perfeitamente possível anunciar o defeito, supostamente capital (ou não) de si próprio e, ainda por cima com orgulho. Aquele que se conhece na sua possível plenitude que o acto permite, referir-se-á "canalha" com orgulho pois compreende que isso faz parte dele mesmo, da sua personalidade. Se não o fosse já não seria ele mesmo e sim um outro sujeito qualquer. Não sugiro o referido em todos os casos, mas penso que se assumir canalha poderá não ser uma leviandade tão grave que o turbe à exposição global de cabeça erguida.
Gothicum – "Texto sem comentários" Nada a declarar! :)
Beijo!
Simplesmente o que disse e torno a referir, é que por muitas cartas que existam neste planeta, em relação aos direitos fundamentais do homem, não chegam a todo lado. Quanto aos canalhas, vivemos numa sociedade de canalhas, hipócritas e outros adjectivos, principalmente quem tem poderes para mudar o mundo e não o faz, (trabalho numa comunidade de etnia cigana e sinto isso todos os dias, inclusive a crítica por eu estar lá a trabalhar). Se assim não fosse não existia tanta miséria (física e mental) por e asse mundo fora. Acenar com as cartas na ONU e ao mesmo tempo ser o maior vendedor/fabricante de minas anti-pessoais, Ou mandar uns quantos sacos de alimento para África para "matar" a fome a uns perdidos e ao mesmo tempo por detrás dos panos tenta-se aumentar ao máximo o valor dos cereais, ou ser contra os governos como o da China onde todos os dias abusam e matam os direitos fundamentais da humanidade e ao mesmo tempo continuamos aceitar os produtos chineses a baixo custa, sabe-se lá ao custo do que. Termino com outra alusão ao ser humano, aquele ser humano, como por exemplo eu, que gosto tanto dos animais e até sou contra as touradas, uso e visto peles de animais, delicio-me carne dos próprios (sabendo como eles sofrem na altura da morte) pensando (sabendo que estou enganado) que é a vida. Já me estou a alongar, almas puras existem poucas e as poucas pouco podem fazer. Desculpa qualquer coisa e abraços.
Caro Gothicum,
Não haverá nada a desculpar, os comentários são aceites e lidos e como tal compreendidos.
Agora sim expressas-te a tua postura em relação ao assunto. Quanto a essa, nada a declarar.
Mas efectivamente as citações referidas chocaram um pouco com a minha postura na vida e daí que te tenha respondido. Coisa que já nem sequer é hábito aqui no blogue.
Como pudeste constatar, os meus comentários referenciaram somente os Senhores e não a tua opinião pessoal sobre o assunto, até porque o que referiste neste segundo comentário, vai de encontro ao excerto que deixei no Post.
Gostaria que entendesses que todos os meus comentários aos comentários, são por mim vistos como um diálogo aberto e não como uma discussão de assembleia! ;)
Obrigada pela tua participação, é sempre um prazer manter uma conversa, mesmo que desfasada no tempo.
Beijo e volta sempre,
Agora sim. Assunto resolvido. Foi mesmo uma falta de entrosamento das minhas palavras, visto que eu concordo e penso tal-e-qual como escreveste no post. Abraços
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