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A cadeira gelada arrepiou-a e fechou o casaco à procura do abraço de alguém.
Nem sequer estava frio e os casacos serviam apenas para matar saudades do vento.
Até o tempo mudou. Mudou e parou por uns segundos.
Dizem que quando morremos nos passa uma curta-metragem pelos olhos, pois se assim é, ela morreu ali, depois de morta.
A mesa redonda de uma madeira gasta de tanta água serviu de apoio aos cotovelos. Não largou o casaco cruzado em frente ao peito e nem os cabelos a voar ao vento a fizeram mexer as mãos, as tais à procura dos braços.
O frenesim dos carros e dos taxistas apressados, os saltos das senhoras desequilibradas em cima de agulhas, as pastas deles em consonância com os passos e os miúdos. Os miúdos arrastados pelas mãos seguravam um balão cheio de sonhos feitos de imaginação. Algures no meio daquela multidão apressada e desajeitada, por entre pequenos espaços de passos apressados surgiu uma, diferente das outras.
Ela tinha 14, ele tinha 18. Ela demasiado nova e fresca, ele demasiado pesado e fosco.
Não se tocaram, não sorriram, não se mexeram. Como se não existissem.
A vida cedeu ao tempo e ela ao sorrir com os olhos a brilhar, deu-lhe um abraço sereno.
Quem visse aquele olhar…dizem que mudava vidas inteiras, aqueles olhos.
Ele? Ele sentou-se no chão quando ela lhe disse adeus.
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