quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A fairy Tail



.


.


.


.


.


.


Fecho os olhos, a surdina do vento endoidece-me. Lambem-me as orelhas, as baboseiras. Sinto o vento, quente e seco, as bochechas queimadas no rosto. Seca-me os lábios e enlaça-me o cabelo. Lembra-me as mãos vazias de pequenos tudos...

Cola-se fazendo desenhos estranhos, a areia fina, quente e pontiaguda, às linhas que tenho ainda mornas na pele. Fazem desenhos descendentes de rios secos.

(Pois… os mortos…)

Olho para trás, pelo canto do ombro. Montes, pilhas e covas. Confunde-se com o ondulado daqueles gigantes de areia, castanha, vermelha e preta. Desenham quase cornucópias. A areia que os tapa, aos poucos e poucos, enquanto vislumbro as roupas encardidas de nojo meu a desaparecerem, no fosso que será a memória.

Nada.
Não sinto nada.
Nem vazio. Nem molhado.
Só a areia a furar-me a pele pelas garras da raiva do vento.

Abro os olhos e gravo O Silêncio.


.


.


.


.


7 comentários:

Gothicum disse...

"A dificuldade é um severo instrutor. "
(Edmund Burke)

Infelizmente ainda não tenho a capacidade de colocar os mortos-vivos no negrume da cova da minha memória…infelizmente. (mas hei-de conseguir). Abraços

ivone disse...

fala_se de morte por aqui? que bom. há dias assim. é que ás vezes apetece falar disso. e dizes tu que não sentes nada. já sentes alguma coisa. o nada. se assim não fosse era bem mais grave.

beijos

Freyja disse...

Cara Ivone,

Há uns dias atrás discuti isso mesmo com uma amiga. O facto de não se sentir nada. È um pesadelo sem fim, uma queda sem chão.

Eu de facto, em relação aos meus mortos, e depois de os matar, não sinto nada... se calhar é porque sei que os tenho de voltar a matar de novo.
Quando eles recomeçam a ganhar voz, opacidade e cor, assombram demais a minha existência. E lá vou eu, para mais uma alucinação de terror, para os matar e calar de novo. Reconquistar O Silêncio. Aí sim, sinto nada. Talvez uma bizarra tranquilidade após a exorcização... Já é alguma coisa, além de nada.

E sim, há dias assim. Abruptamente violentos.


Um Beijo,

Freyja disse...

Caro Gothicum,

Como és capaz de viver com os mortos, vivos na tua memória?
Eu não consigo... tenho de os calar de vez enquando antes que "tomem" conta de mim...

Um Beijo,

Pearl disse...

Sou de silêncios mas tambem sou ruidosa e é no meu silencio que encho o meu peito de ar, para gritar quando já não aguento mais!


Beijo e abraço!!

ivone disse...

e para quando mais sentires de nada? e esse exorcismo continua?


estás viva!!

Freyja disse...

Cara Ivone,

Não, não estou. Estou do lado de lá. Na batalha dos mortos. Quando penso que acabou, regressa.

Já não me sinto, só continuo. Um dia volto. Mas volto.

Um Beijo,