sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

00:15

Tenho

Tenho-te

Seguro

Seguro-te

Inspiro

Inspiro-te

Tenho-te seguro na inspiração.

Marcam as rugas na pele de um semblante. Histórias de uma puta rameira que me explora e que me larga, gelada, coberta de roupas velhas e pés quentes. Eu e os meus livros que não leio. Vivo. Na ponta dos dedos que cruzam as linhas em busca da palavra que não ouço. Passo o tempo, inócuo à minha existência como quem observa a relva a crescer. Espero impacientemente como se fosse uma velha, o dia, o minuto e o segundo em que tudo se desvaneça num pestanejar incompleto, perpétuo.

Nas roupas velhas que não usei, espero que um dia me venhas comer o que me come por dentro.

Guardo a cereja numa caixa e espero que o céu um dia desça à terra e a coma, nas palavras sem vento, de uma noite de estrelas e de chuva.

Sentar-me-ei, com estas roupas velhas a viver as vidas de papel, até que os olhos me doam em frente a uma cereja guardada no quente do peito.
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Tenho-me
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Seguro-me
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Inspiro-me
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